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Sobre os textos

Postei os meus textos antigos que encontrei, não estão em ordem cronológica mas foram escritos em meados de 2012, espero que gostem. Em uma próxima noite de insônia começo a escrever novos.
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Entrega

Quando atendia a porta, o motorista do caminhão que parara em frente de casa conferiu o endereço numa nota e carregava uma enorme caixa preta com a inscrição FRÁGIL bem visível. Chamei meu pai, ele conferiu os dados da nota : era para nós, mesmo. Recolhemos a pesada caixa e fomos até a sala para descobrir o que tinha ali dentro. Foi um caos : minha avó ficou parada perplexa, branca sem a menor reacao. Achei que iria desmaiar. Meus irmãos mais novos riam com a inocência salvadora da infância. Minha mãe simplesmente gritou assustada. Gritou tão alto que acordou os vizinhos. -Pai- tentei dizer, gaguejava e suava frio, meu corpo tremia incessantemente - Pai, não tenho ideia do quê ou de quem é isso ! - Ele não acreditava no que estava vendo. Retirou os familiares da sala, meus irmãos não paravam de rir ! O motorista tinha sumido, nenhum sinal dele. Ouvimos a campainha novamente, policiais entraram querendo saber do conteúdo da caixa. Quando viram, sacaram suas armas. Estávamos sendo presos

Urgências

A cidade onde nasci, além de muito pequena, é também muito pacata e silenciosa. Delegacia e hospital só atendem a casos de rotina, sem nenhuma gravidade. Foi por isso que, quando o telefone tocou alternada e insistentemente nesses dois lugares, no exato momento em que todos na praça se despediam para ir dormir, o tumulto foi grande. Depois de breve interrupção, tocou também lá na igreja. O padre saiu corredo pela pequena rua de terra em frente à sacristia. Usava um pijama de algodão branco e chinelos de dedo com meias grossas. Ofegante, chegou ao hospital. O Hospital Santa Maria das Dores nunca foi um local muito tumultuado portanto, depois de se ver o Doutor exaltado indo conversar com o padre, foi possível ver que algo anormal estava ocorrendo. Doutor e Padre correram para a delegacia. O Sr. Chefe de Polícia era um homem gordo que tinha uma barba longa e desfiada fedendo a cerveja. Não costumava sair de sua sala para ir a outro lugar se não o bar do lado. À porta da delegacia, o

Sortudo

Sentia-se bem, estava seguro, feliz. Caminhava alegremente pelas ruas da cidade com seus tenis esporte, bermuda branca e uma camisa lisa preta enquanto o sol se punha às suas costas. Seus pensamentos divagavam e nao se prendiam jamais a uma coisa só, o caminho de volta para casa era longo. Durante sua jornada diaria de volta do trabalho olhava tudo, mas nunca enchergava realmente alguma coisa. Desta vez viu uma casa loterica que nunca tinha reparado anteriormente. Sentiu um aperto no coração, uma batida mais forte. Resolveu entrar. Afinal, era só um joguinho mesmo, nao faria mal a ninguem. Pegou o papel e a caneta, marcou alguns numeros e outros quadradinhos e foi à cabine fazer algumas apostas. O sorteio seria na mesma noite. Após o procedimento da sorte ter sido feito e todo o ritual completado, recebeu o troco, agradeceu e saiu com dois bilhetes de aposta na mao direita e, na mao esquerda, sua carteira, para por aquelas infinitas moedas de troco no bolsinho lateral. Estava tranq

Onibus

Esses dias eu estava voltando do trabalho, o ônibus estava lotado e ainda faltava muito para chegar em casa. Ao meu lado, um homem passou, meio tropeçando nas pessoas, acelerado. Tinha uma barba ruiva engraçada e exalava um cheiro tao forte de perfume barato que encheu minhas narinas e também as de metade do ônibus. Chegou na catraca e começou, meio gritando, meio falando alto, a dizer para o motorista que iria descer três pontos a frente. O motorista apenas levantou a mão com o polegar para cima, em um gesto de entendimento, e continuou dirigindo. Naquela hora o pior aconteceu : o trânsito parou. Como um formigueiro,  era possível ver aquele mar de faróis vermelhos até onde a vista alcançava. Algum acidente provavelmente. O homem falou para o motorista: "Daqui a três pontos ein ?!?" Sua voz estava carregada de ansiedade, provavelmente ia a algum encontro. Afinal, era uma sexta-feira e seu perfume e nervosismo pareciam confirmar isto. Podia estar indo para uma entrevista de

Distantes

Distantes Estava eu, domingo à tarde de céu encoberto a voltar para casa. O sinal se fechou e tive que parar o carro. Ao longe, um menino caminhava. Pequeno, não devia ter doze anos de vida. Estava sujo e usava trapos enquanto pedia dinheiro para os carros. Um por um, negavam-lhe e ele simplesmente seguia em frente. Como é a visão de mundo desse menino ? Realmente é justo ele, que nunca teve chance de fazer nada na vida, estar pedindo dinheiro no farol e eu simplesmente estar aqui tranquilo no meu Honda Civic ? Por que somos tão diferentes ? Vivemos em mundos distintos. O mundo capitalista é essencialmente desigual. Nascemos em diferentes cenários e temos diferentes oportunidades. Eu, burguês, tenho preocupações com o trabalho, viagens, vida social e política ... Quais são as preocupações dele ? Sobreviver. Somos personagens de um romance realista no qual Aluísio de Azevedo é o mestre de marionetes. O mundo determinou como somos e seremos. Nossas experiências e oportunidades. Nossa his

Sangue ?

Olhei sua cabeça. Seu rosto estava encoberto por sangue: ele estava todo ensanguentado. Vi que o nariz estava machucado. Tinha certeza de que conhecia aquela face. Uma dor pesada bateu no meu coração quando o encarei. Meu estômago rodava à velocidade da luz e senti-me fraquejar. Tudo começou quando eu senti um desconforto estranho no meu abdômen. Sentia algo nas minhas entranhas como um bebe chutando a barriga da mãe. Andei para frente de casa. Conseguia ver o sol, que estava mostrando seus primeiros raios em uma tímida coloração azul alaranjada ou até mesmo vermelha no céu por trás das montanhas verdes ao leste. Tinha aprendido, não lembro aonde, que amanhecer vermelho era sinal de sangue. Passei a mão na cabeça, procurando os poucos fios de cabelo que me restavam. Respirei aquele doce aroma de orvalho que se depositava sobre os carvalhos da floresta ao lado de casa o qual se misturava com o salgado cheiro de sangue que escorria pelas minhas pernas. Senti novamente aquele chute no l

Infinitude

Azul. Infinito. Salgado. À minha frente, o nascer do sol é refletido nas águas calmas até onde a vista alcança. As milhares de cores resultantes da fusão água-sol dançam e se combinam em outras milhares de cores que enchem todo o horizonte com uma infinidade de possibilidades. Sinto o doce ritmo de oscilação que a mãe natureza me da enquanto observo aquele hipnotizante horizonte dominando-me. Fecho os olhos, sem saber se é um sonho ou se realmente estou vendo aquele inocente começo de dia.  Como se fossemos um só, sinto-me imenso. Toda a vida em mim, infinita.  Afundo minha cabeça por alguns segundos, o suficiente para contemplar a amarga temperatura que faz parte do salgado equilíbrio no qual participo. Sinto, dos meus pés, caminhando pelas minhas pernas e delas vindo pela minha espinha e finalmente chegando à minha cabeça um arrepio suave, como uma brisa que anuncia uma tempestade. Abro os olhos, contemplando aquela explosão de cores e sensações em que sou apenas um personagem.

Sobre a loucura

Seus olhos fitam o vazio. Suas mãos estão entrelaçadas no peito, e seus cabelos presos sob o véu. Lembro-me dela dizendo para não temer a insanidade, antes de se esquecer de quem era. Minha tia sempre idealizou a loucura. Poeta e inocente como uma criança destemida, considerava apenas o lado mostrado pelos livros e filmes. "De perto ninguém é normal" . Sua frase favorita de Caetano Veloso estava tatuada nas costas. Mas se esqueceu do que era. Ironicamente se tornou uma versão familiar do Mr. Hyde. Esqueceu-se não apenas da tatuagem, mas também de voltar para casa a noite ou do que era certo e errado. Esqueceu seu próprio nome e dos que a amavam. Esqueceu-se do vício que carregara a vida toda, e parou de fumar. Simplesmente se esqueceu de quem era. "Pai, por que Tia Dalva não vem mais em casa ?" - eu perguntava sempre que sentia falta da vermelhidão que ela gostava de deixar nas minhas bochechas ou do doce de amendoim que sempre trazia nos almoços de domingo. Gost

Criação do Blog

Olá a todos e bem vindos, Meu nome é Victor, tenho 23 anos e gosto de escrever. Infelizmente, tinha parado com essa prática há muitos anos, mas resolvi buscar alguns textos antigos e postá-los, pq não vejo mais motivo de mantê-los só pra mim. Aqui você irá encontrar de tudo um pouco, mas principalmente textos reflexivos - que são meus momentos eureka. Espero que gostem !! Victor